A partir de 1960, o mundo assistia o caos das mudanças sociais que afetavam a sociedade daqueles dias. Guerra, assassinato, rock, droga e movimentos hippies constituíam uma fase incapaz de passar despercebida pelos olhos dos integrantes das grandes metrópoles e influenciaram as relações sociais. O jornalismo e seus escritores se encontravam entre aqueles habitantes e, com sua forma objetiva, não seriam capazes de descrever exatamente tudo o que cercava os seres humanos daquela época. Essa confusão, acentuada principalmente nos Estados Unidos, deu vazão a um tipo de escrita mais consistente e profunda, tentando atingir o nível de mudanças pelas quais a “terra do tio Sam” também atravessava naqueles dias.
Surgiam os novos jornalistas. Trazendo em suas bagagens a influência da ficção norteamericana e dos grandes romancistas, eles se dispuseram a contar à sociedade daquele tempo o que sucedia nos anos 60 e 70 e o que tudo aquilo significava. Era o auge da não-ficção criativa, considerado o maior movimento literário desde o renascimento da ficção americana dos anos 20 e que lançou as estruturas do Novo Jornalismo, uma tendência advinda do próprio jornalismo que trabalhava o fato como uma espécie de obra de arte. Mergulhados nas influências da ficção, os textos afloravam pelas mãos dos jornalistas e transportavam a realidade dos acontecimentos carregados de detalhes minuciosos ao leitor.
John Hersey, um dos precursores do New Journalism |
Foi Tom Wolfe quem deu nome ao novo estilo de se fazer jornalismo |
Outro grande nome do Novo Jornalismo, Tom Wolfe, também foi arrebatado pela forma de escrita do romance-ficção. O entusiasmado observador de Nova York mergulhou de cabeça nas cenas urbanas instigado pela trilogia de James T. Farrell. O personagem Studis Lonigan teve sua história criada por Farrell de maneira tão instigante, que atraiu a atenção de Wolfe. O relato corajoso e franco do romancista sobre o crescimento humano, a partir do material bruto da vida de uma criança, acabaria dominando o estilo do jornalista em seus monólogos interiores. Os fatos não eram a principal preocupação de Wolfe, a ideia dele era registrar a cena acrescentando detalhes peculiares que outros classificariam como secundários.
A obra A Sangue Frio, de Trumam Capote, foi a mais lida entre os novos jornalistas do Brasil da década de 60 |
O jornalista Truman Capote também acreditava numa narrativa que mergulhasse fundo nas cenas e na vida dos personagens. Ao ser convocado para cobrir o assassinato de uma família de agricultores em 1959 nos Estados Unidos, Capote inspirou-se na obra de Hersey e recriou os acontecimentos usando a voz do romance. Tendo dois assassinos como as únicas testemunhas do crime, o caso transformou-se num desafio para o escritor que não usava gravadores e abominava anotações, contando apenas com a ajuda de uma amiga para registrar os relatos. A reportagem ganhou publicação na New Yorker em 1965 e bateu recordes de venda da revista. A história virou livro sob o título A Sangue Frio, e, segundo o próprio autor, inaugurava o romance de não ficção. A declaração provocou grande polêmica entre os críticos de seu país que chegaram a negar o lugar da obra no contexto literário, porém, devido o sucesso comercial do livro, a “nova” forma literária não tardou a conquistar seguidores. No mesmo ano, o livro foi traduzido e publicado no Brasil, inspirando os novos jornalistas que surgiam por aqui.
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