quinta-feira, 5 de maio de 2011

Inspirações e experiências do New Journalism

A partir de 1960, o mundo assistia o caos das mudanças sociais que afetavam a sociedade daqueles dias. Guerra, assassinato, rock, droga e movimentos hippies constituíam uma fase incapaz de passar despercebida pelos olhos dos integrantes das grandes metrópoles e influenciaram as relações sociais. O jornalismo e seus escritores se encontravam entre aqueles habitantes e, com sua forma objetiva, não seriam capazes de descrever exatamente tudo o que cercava os seres humanos daquela época. Essa confusão, acentuada principalmente nos Estados Unidos, deu vazão a um tipo de escrita mais consistente e profunda, tentando atingir o nível de mudanças pelas quais a “terra do tio Sam” também atravessava naqueles dias.

Surgiam os novos jornalistas. Trazendo em suas bagagens a influência da ficção norteamericana e dos grandes romancistas, eles se dispuseram a contar à sociedade daquele tempo o que sucedia nos anos 60 e 70 e o que tudo aquilo significava. Era o auge da não-ficção criativa, considerado o maior movimento literário desde o renascimento da ficção americana dos anos 20 e que lançou as estruturas do Novo Jornalismo, uma tendência advinda do próprio jornalismo que trabalhava o fato como uma espécie de obra de arte. Mergulhados nas influências da ficção, os textos afloravam pelas mãos dos jornalistas e transportavam a realidade dos acontecimentos carregados de detalhes minuciosos ao leitor.

John Hersey, um dos precursores
do New Journalism
Foi John Hersey quem deu o pontapé inicial na disseminação do gênero pela América do Norte ao cobrir a Segunda Guerra Mundial de maneira nunca vista entre os jornalistas, assumidamente influenciado pela estrutura da ficção. Considerada a reportagem mais importante do século XX pelo Departamento de Jornalismo da Universidade de Nova York, o livro Hiroshima é o desenho de Hersey sobre uma paisagem devastada pelas bombas lançadas pelos Estados Unidos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em 1945. O que torna a obra uma referência para o Novo Jornalismo, é, entre outras coisas, a intenção de Hersey em documentar o impacto da bomba sobre pessoas (e não sobre prédios) e a maneira como descrevia as situações. Nem mesmo as reações internas dos personagens escapavam de suas anotações. A inspiração de Hersey tinha nome e sobrenome: Thorton Wilder e sua obra A ponte de São Luís Rei. Foi a forma como Wilder relatou a queda de uma ponte de cordas, concentrando-se nas vítimas do acidente, que inspiraram a narrativa do jornalista.

Foi Tom Wolfe quem deu nome
ao novo estilo
de se fazer jornalismo 
Outro grande nome do Novo Jornalismo, Tom Wolfe, também foi arrebatado pela forma de escrita do romance-ficção. O entusiasmado observador de Nova York mergulhou de cabeça nas cenas urbanas instigado pela trilogia de James T. Farrell. O personagem Studis Lonigan teve sua história criada por Farrell de maneira tão instigante, que atraiu a atenção de Wolfe. O relato corajoso e franco do romancista sobre o crescimento humano, a partir do material bruto da vida de uma criança, acabaria dominando o estilo do jornalista em seus monólogos interiores. Os fatos não eram a principal preocupação de Wolfe, a ideia dele era registrar a cena acrescentando detalhes peculiares que outros classificariam como secundários.
A obra A Sangue Frio, de Trumam Capote, foi a mais lida
entre os novos jornalistas do Brasil da década de 60
O jornalista Truman Capote também acreditava numa narrativa que mergulhasse fundo nas cenas e na vida dos personagens. Ao ser convocado para cobrir o assassinato de uma família de agricultores em 1959 nos Estados Unidos, Capote inspirou-se na obra de Hersey e recriou os acontecimentos usando a voz do romance. Tendo dois assassinos como as únicas testemunhas do crime, o caso  transformou-se num desafio para o escritor que não usava gravadores e abominava anotações, contando apenas com a ajuda de uma amiga para registrar os relatos. A reportagem ganhou publicação na New Yorker em 1965 e bateu recordes de venda da revista. A história virou livro sob o título A Sangue Frio, e, segundo o próprio autor, inaugurava o romance de não ficção. A declaração provocou grande polêmica entre os críticos de seu país que chegaram a negar o lugar da obra no contexto literário, porém, devido o sucesso comercial do livro, a “nova” forma literária não tardou a conquistar seguidores. No mesmo ano, o livro foi traduzido e publicado no Brasil, inspirando os novos jornalistas que surgiam por aqui.

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