quinta-feira, 7 de abril de 2011

A revolução em Realidade

Diferente das revistas de sua época, Realidade estampava em suas capas imagens que fugiam dos belos rostos femininos
                                                                              
Quando o Brasil entrava em seu terceiro ano de regime militar, em 1966, chegava às bancas a revista Realidade, capaz de expressar um jornalismo inovador e que conquistou fama de publicação “revolucionária” por reproduzir reportagens ousadas sobre os problemas sociais que o país atravessava naquele período.   

Apontada como um marco na história da imprensa no Brasil, a revista reuniu grandes nomes do jornalismo brasileiro influenciados pela corrente do New Journalism norte americano, um tipo de escrita iniciada pelo jornalista Tom Wolfe que empregava recursos literários para narrar eventos não ficcionais. Nomes como Eduardo Barreto, José Hamilton Ribeiro, Granville de Ponce, Woile Guimarães, Sérgio de Souza, José Carlos Marão, João Antônio, Dirceu Soares, Luiz Fernando Mercadante, Mylton Severiano da Silva, Otoniel Santos Pereira, Roberto Freire, Octavia Yamashita, Eurico Andrade, Paulo Patarra, Narciso Kallili e Carlos Azavedo afloraram uma produção jornalística singular, que forneceu à reportagem brasileira uma dimensão reveladora e marcou o gênero jornalístico no país.

A linguagem convencional não se igualava aos recursos discursivos utilizados na revista, conduzidos para formas literárias e ficcionais de narrativa que ampliaram sua penetração junto ao leitor. Realidade revelou ao seu público significados de uma época de mudanças e forneceu informações de perspectiva global, fomentando sua própria existência como ferramenta de análise do cotidiano. O veículo fugia de um suposto jornalismo objetivo quando priorizava textos de profundo envolvimento por parte do jornalista, permitindo uma escrita mais solta e livre de estruturas pontuais. A inquietação intelectual vivida pelo país naquela década reforçava a possibilidade de superar os limites do padrão de linguagem informativa, e o New Journalism apresentou a saída para essa limitação quando propôs um texto flexível e repleto de detalhes, baseado nos elementos narrativos das obras ficcionais.         

Esse conjunto de ferramentas serviu de base para as reportagens de Realidade que inauguraram a essência do “novo” jornalismo no Brasil. O quadro político do pós-guerra, o fenômeno populista, as questões nacionalistas, as eleições e o aumento da participação das massas urbanas no cenário social só fez aprofundar os rumos desse novo estilo de escrita. No momento em que a simples objetividade da imprensa carecia de recursos para acompanhar o ritmo da vida nacional, o jornalista dos anos 60 trouxe consigo a perspectiva de mudança, inquietação e revolução e sentiu a necessidade de traduzi-la nos textos. E foi neste contexto que a revista nasceu, na tentativa de revolucionar a sociedade a partir da reinvenção da linguagem jornalística.
 

Um comentário:

  1. Excelente! Só a imagem poderia ser maior. Sei que você quis fazer um apanhado das capas, mas ficou muito pequeno...

    ResponderExcluir