quinta-feira, 28 de abril de 2011

Língu'ácida de Joel Silveira

                                                                                          
Foto:  Bel Pedrosa/ Folha Imagem

A caminho de uma entrevista com o jornalista Joel Silveira, no ano de 1999, um repórter resolveu por bem chegar duas horas mais cedo na casa desse velho combatente das letras. Só não esperava a grosseira receptividade:

- Vocês marcaram às 16h! – soltou o jornalista num resmungo quase mortífero.
Mas não se assuste. Quando se trata de Joel Silveira, o veneno das palavras já é velho conhecido. Eis um jornalista que sabia o que fazer com suas ironias, traduzi-las em texto ferino. No tempo da era getulista, os assuntos em relação à política e à vida particular dos Getúlios foram impostos como segredo de estado, nada a respeito deveria ser publicado nos veículos de comunicação da época. Oportunidade ideal para que Joel Silveira, o “víbora”, fosse à caça de outras pautas: a vida social e seus grã-finos que sobreviviam à custa da pompa.
Sergipano da cidade de Lagarto, o jovem Joel saiu com seus 26 anos de idade à procura de emprego na então capital federal, o Rio de Janeiro, no ano de 1937. Há tempos que seu pai já consumia o semanário Dom Casmurro e foi lá que o jornalista bateu primeiro, pedindo uma chance para também publicar seus escritos.  Em 1938, a convite de Samuel Weyner, passou a integrar a equipe de Diretrizes, um dos veículos mais respeitados do período. Foi quando nasceu sua primeira reportagem de sucesso: “Eram assim os Grã-finos em São Paulo”, publicada em 1943 causou burburinho no meio da sociedade tradicional paulistana.
Joel Silveira morreu aos 88 anos no ano de 2007,
vítima de câncer na próstata
Vale a pena ler a produção.  Joel literalmente se infiltrou na vida social da elite paulista e passou a freqüentar os lugares mais visitados do público-alvo de suas críticas. Um texto fino, é verdade, mas recheado de ironias, sutilezas, adjetivos matadores e metáforas pontiagudas, tudo para temperar sua reportagem. Em certa altura, explica francamente para o leitor o que era o conhecido “chá na Jaraguá”: “um ponto onde Fifi marcará encontro com Lelé para falar mal de Zuzu”. Os livros e a intenção dos organizadores em promover a cultura foram apenas coadjuvantes no fato que não escapou ao foco do jornalista.
Os intelectuais até tentaram, criaram a tal da “Bolsa do Livro”. Joel esclarece em poucas palavras: “Um pedaço de cartolina pregado numa parede da livraria. Um cavalheiro que tenha um livro raro para vender escreve o nome do livro e o preço na cartolina. Outro cavalheiro, que deseje adquirir uma raridade, faz a mesma coisa. Na tarde em que estive na Jaraguá, visitei a cartolina: o lado das preciosidades estava repleto.” A reportagem retratou muito da vida que os paulistanos abastados levavam no início do século XX. Joel foi tragado por aquele jornalismo ousado e literário e explorou a eficácia da narrativa irreverente. O veneno das palavras casou com a originalidade do jornalista, considerado até hoje como um dos pioneiros do fazer jornalístico-literário no Brasil.  E viva a víbora!

Um comentário:

  1. Texto impecável, como sempre.
    Tem link para o texto dele?

    Cuidado: rario?

    ResponderExcluir