quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Um protesto offline

Do alto da estação de trem dava para avistar poucos manifestantes. Amontoados na única ponte da cidade de Jandira que dá acesso à Rodovia Castelo Branco, os servidores da educação faziam greve. Formando um pequeno mar de sombrinhas (porque chovia naquela manhã), reivindicavam uma lista de 12 petições.

Sob a mesma garoa, o protesto reuniu cerca de 700 servidores, o que representaria a ausência de professores nas salas de aula de Jandira durante a manhã. O fato realmente aconteceria, não fossem os estagiários e profissionais 'desqualificados' - segundo os próprios manifestantes - que estavam cobrindo a falta deles durante o protesto, o que fez nascer o 13º tópico da paralisação: a ilegalidade do prefeito em distribuir professores substitutos pelas escolas.


A cena era atípica. Os carros e ônibus acostumados a cruzar diariamente o mesmo viaduto às nove da manhã tiveram que puxar o freio de mão. Para os funcionários que se deslocavam para o trabalho, a alternativa foi abandonar o ônibus e partir de trem ou, esperar, pacientemente, a liberação do acesso.


Ouvi um dos líderes da manifestação atirar palavras de indignação contra a prefeitura através de um microfone, amplificadas na caixa de som do caminhão que fazia as vezes de palanque. Parecia um comício. Certo momento, o ativista-mor tinha dificuldades para entender o que diziam os manifestantes e a confusão era divulgada em potência sonora: "peraê, gente, cada um fala de uma vez se não eu não consigo entender", reclamou. Logo em seguida, tentou a linguagem corporal, na tentativa de afinar a comunicação: "quem quer fazer a passeata agora levanta a mão!", só que ficava difícil para os servidores acenarem por debaixo do guarda-chuva.


Colada na cidade de São Paulo, Jandira é um município de ritmo interiorano e abriga muitos trabalhadores que convivem nas fábricas e escritórios paulistas. É uma das tantas cidades-dormitórios que compõe a Grande São Paulo, servindo de alternativa para quem quer trabalhar na cidade da economia brasileira sem abrir mão de um lugar barato para viver as horas que restam da rotina - antes e depois de bater o ponto na "firma".


Parte dos manifestantes são os responsáveis pela educação escolar dos filhos de muitos desses trabalhadores. São professores da rede municipal de ensino com a árdua tarefa de educar crianças acostumadas com a ausência dos pais que trabalham longe. Insatisfeitos com as condições de trabalho, eles, os professores, resolveram que era a vez deles de descer às ruas para protestar. Da lista, metade dos tópicos envolvia dinheiro: salários melhores, vale transporte, aumento no vale alimentação e mudança na forma de repasse das receitas para a educação.



É claro que, nos tempos de hoje, protesto sem mídia não faz verão. O máximo que a manifestação conseguiu foi um release em uma agência de notícias, com seus 60 seguidores no Twitter e 138 'curtidores' na fan page do Facebook. Muito pouco para quem queria fazer barulho (ao menos) nas redes sociais. Foi pequeno o movimento offline em Jandira. No dia seguinte, a greve já havia encerrado com vitória para o lado do sindicato, provando que não são só de curtidas online que sobrevive ou funciona um manifesto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário